Vila de Belas

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5.01.2006



Alta-tensão ameaça qualidade de vida!
(Correio da Manhã, 17.12.2005)

A construção da 2.ª fase da linha de muito alta tensão (220 kv) Fanhões /Trajouce nos concelhos de Amadora, Sintra e Cascais terá um impacto "negativo e significativo para as populações residentes na proximidade da linha", revela o resumo não técnico do Estudo de Impacte Ambiental que ontem esteve pela última vez em consulta pública às populações.O estudo destaca que haverá habitações a distâncias inferiores a 100 metros da linha nas seguintes localidades: Serra do Casal de Cambra (100 metros), Cacém (50 metros) Bairro da Chutaria (60 metros), Bairro João da Nora (75 metros), Papel (25 metros) e Ligeira (25 metros).A passagem aérea "dos cabos de alta tensão induz perturbações nas populações devido à redução da qualidade de vida", sustenta o trabalho que adianta que "um dos principais impactes negativos resulta da passagem aérea sobre oito habitações, em Serra da Silveira, e sobre uma habitação, na vertente esquerda do Vale do Rio Jamor, Sul do Bairro do Pomar Chaves.A EVITAR CONTACTOO presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge, defende que "deve ser evitada" a presença de habitações próximas de linhas de alta tensão. "Para além de um acréscimo do ruído e das consequências negativas da eventual quebra de um cabo ou derrube de um poste, é também preciso levar em conta os campos magnéticos", disse."Os estudos existentes são contraditórios, mas existem investigadores que defendem que a presença de linhas de alta tensão aumentam os riscos de leucemia nas crianças que estão sistematicamente sujeitas a estes campos", acrescentou."Com preocupação" é como, por sua vez, o ambientalista Carlos Moura encara a construção desta linha que rodeia, a Sul, a cidade de Agualva-Cacém. (Colaride)"Iremos estar de novo com uma área urbana exposta aos campos magnéticos, como ocorreu, em 2004, com o sublanço Fanhões/ /Sete Rios [Lisboa]", sublinhou.Apesar dos potenciais riscos para a saúde, a não construção da nova linha pode provocar um mini-apagão nos concelhos de Cascais e Sintra. A Rede Eléctrica Nacional (REN) defende que esta obra é prioritária porque "o consumo de energia eléctrica – com destaque para os concelhos de Sintra e Cascais – apresentou elevadas taxas de crescimento".Se a obra não for concretizada, "estudos conjuntos da REN com a empresa de distribuição evidenciam um quadro de ruptura com a actual capacidade de transporte e de transformação". O documento acrescenta que o abastecimento à parte Ocidental da Grande Lisboa é conseguida através de apenas duas linhas de 220 kv. Isto significa que caso uma delas falhe, a outra terá de servir toda a carga. "Tarefa ainda possível na actualidade embora com algumas dificuldades", lê-se.

MAIOR INCIDÊNCIA DE CANCRO
A organização de defesa do consumidor (Deco) alerta para os perigos de se conviver diariamente com linhas de alta tensão. O S.O.S. Consumidor divulga: "De acordo com estudos realizados por diversas entidades, entre as quais a Organização Mundial de Saúde [OMS], existe uma maior incidência de doenças [nomeadamente doenças cancerígenas, como a leucemia] em populações que vivem junto a cabos de alta tensão. Contudo, não está provado que tal se deva exactamente aos cabos de alta tensão." A Rede Eléctrica Nacional discorda da influência nefasta da alta tensão na saúde pública. "A alta tensão não tem qualquer relevância particular nos campos electromagnéticos." E garante que a monotorização dos equipamentos é efectuada com regularidade. CONSUMO SUPERIOR À MÉDIA DA UEO consumo privado de energia eléctrica em Portugal tem registado crescimentos médios superiores aos registados na União Europeia (UE). Segundo números divulgados pela Entidade Reguladora do Sector Eléctrico (ERSE), entre 1983 e 1993 a taxa média anual registou uma subida de 3,2 por cento contra 2,4 por cento na UE. Entre 1993 e 2003, essa diferença foi diminuindo com um crescimento anual médio de 2,5 por cento em Portugal, contra os 2,2 por cento da União Europeia. A partir de 2000, as taxas de crescimento começaram a ser inferiores às registadas na União Europeia, reflexo da crise económica. RADIAÇÕES MOTIVAM PROTESTOO medo de possíveis efeitos nefastos para a saúde por causa das radiações emitidas pelas linhas de alta tensão tem provocado acções de protesto das populações de Norte a Sul do País. Em São Brás de Alportel a contestação sobe de tom sempre que se iniciam os trabalhos de construção do corredor Tunes/Estói. Em Lisboa, a organização ambientalista Quercus levantou sérias críticas à construção do sublanço Fanhões/Sete Rios, concluído no ano passado.A existência de uma escola e de habitações a menos de 25 metros da linha na Quinta do Pinheiro, na Pontinha (Odivelas), é contestada pela Quercus que lamenta não ter havido um estudo de impacte ambiental neste sublanço. De acordo com a lei, a reduzida extensão do percurso não obriga à realização desse estudo.Contestada foi também a construção da linha da EDP entre Lavos e Carriço. A colocação do último poste, em 2002, em Silveirinha Grande, Pombal, levou à concentração de uma centena de populares em protesto que foi impedida pelos agentes da GNR de entrar nos terrenos.Segundo Filipe Pedrosa da Olho Vivo, o Instituto do Ambiente recusou a realização de sessões de esclarecimento, pelo que os ambientalistas temem a ocorrência de "controvérsias na fase de construção quando os cidadãos se aperceberem dos impactos da linha para Trajouce".


Os ambientalistas defendem a apresentação de corredores alternativos para o abastecimento de electricidade a Trajouce. "O Estudo de Impacte Ambiental só apresentou uma solução alternativa, o que para nós é pouco", disse Filipe Pedrosa, da associação Olho Vivo. Por sua vez, Carlos Moura, do núcleo da Quercus de Lisboa, defendeu que, em áreas de forte presença urbana, deveriam ser estudadas soluções como "a instalação de cabos subterrâneos". Uma alternativa que levaria ao desaparecimento do ruído provocado pelos campos magnéticos.A linha que irá percorrer os concelhos de Amadora, Sintra e Cascais "é negativa ao nível do ruído de baixa frequência, o qual causa problemas de saúde mental às pessoas que habitam próximo dos cabos", sustentou o dirigente da Olho Vivo.No meio ambiente, Filipe Pedrosa salienta a ameaça de desvalorização do ambiente do futuro parque Natural e Cultural de Colaride. "A Câmara de Sintra aprovou em reunião de câmara a transferência de 1,5 milhões de euros para aquele que é chamado o pulmão de Agualva-Cacém e agora surge esta obra que pode comprometer parcialmente o objectivo de valorização ambiental e paisagística", disse. A passagem dos cabos de alta tensão ao lado das pegadas de dinossáurios de Carenque é outras das críticas apontadas.

João Saramago